"Com o PCP, não tenho dúvidas, acordo assinado é acordo cumprido"
Ficou surpreendido com a abertura dada por Jerónimo de Sousa para PS liderar um governo com o apoio do PCP?
Sim, foi uma surpresa muito positiva. Mas atenção, ao longo da campanha eleitoral, Jerónimo de Sousa deu alguns sinais de mudança. Ao mesmo tempo que criticava severamente o PS, ia anunciando que o PCP assumiria as suas responsabilidades, inclusive em relação à questão do governo. O BE também deu inequívocos sinais de mudança, quando Catarina Martins convidou Costa a encontrarem-se no dia seguinte às eleições "para tratar do governo". Estas mudanças radicam na necessidade de travar os tremendos estragos provocados pela política de austeridade.
Cavaco Silva tem razões para temer um governo de esquerda?
Não, não tem. Em democracia a única matriz para avaliação dos partidos é a Constituição. Ora Cavaco Silva, com várias décadas de político profissional, ainda não percebeu isto. O seu crispado discurso de indigitação de Passos Coelho é inadmissível na boca de um Presidente em qualquer democracia digna desse nome. Ainda mais inadmissível no Portugal democrático, que nasceu de um revolução que pôs termo a uma ditadura de quase meio século, que fazia da discriminação e da perseguição dos adversários políticos um dos seus principais métodos de governação.
É uma frente condenada à partida face ao que ideologicamente separa os partidos?
Os partidos decidiram concentra-se naquilo que os aproxima: a rejeição de política de austeridade e a construção de uma alternativa de mudança que abra novas perspetivas de desenvolvimento ao nosso país. Trata-se de um desígnio patriótico, que é difícil de concretizar, mas tão importante, que merece todos os esforços e o sacrifício momentâneo, por parte de cada um dos partidos, de outros objetivos ideológicos que legitimamente mantêm nos seus programas. O programa comum que for alcançado garantirá a solidez da solução.